Origem da ACR

Origem da Acção Católica Rural (ACR)

Olhando para o Portugal da época em que surgiu a Acção Católica, é possível constatar que existiam diversos problemas no meio rural, tais como: analfabetismo, descristianização, isolamento, escassas vias de comunicação e atraso em relação ao meio citadino. O meio rural era assim um ambiente ao mesmo tempo rico e pobre, pois contemplava toda a beleza da criação, mas era pobre porque estava isolado, bem como pelo nível de riqueza material das pessoas que nele viviam.

Aqueles problemas foram agravados pelo difícil período que devastou a Europa, nomeadamente: «as sequelas da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a expansão do comunismo implantado na Rússia em 1917, as perseguições religiosas e anticlericais, a Guerra Civil de Espanha (1933-1939) e a 2ª Guerra Mundial 1939-1945)», bem como, para Portugal, a Guerra Colonial em África – em Angola, Moçambique e Guiné (1961-1974). Estes fatores levaram a que o país sofresse profundas consequências. A Guerra Colonial levou os rapazes, enfraquecendo todo o país e, consequentemente, também a JAC.

Os Organismos que deram origem à ACR criaram, por isso, estruturas (a nível Nacional, Diocesano, Regional e de Base) com o objetivo de formar os associados nas vertentes espiritual, humana e cristã, de modo a prepará-los para a ação apostólica no meio rural. A sua ação foi, desde sempre, baseada nos problemas concretos do meio, buscando dar-lhes resposta à luz da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja.

Os Movimentos da Acção Católica começaram a sofrer um declínio mais acentuado na década de 70. No entanto, a reestruturação da Acção Católica Portuguesa, operada pela Junta Central presidida pelo Eng. Sidónio Pais, responsabilizou os organismos não só pelos setores pré-juvenis e os organismos juvenis, mas também pelos organismos de adultos afins. Por esta razão, a pedido das Direções Diocesanas, a LAC e a LACF, entre 1972 e 1974, dedicaram-se aos adolescentes. Foi a partir desta época uma preocupação do Movimento, procurando formar animadores que pudessem acompanhar os mais novos na sua caminhada.

Deste modo, a década de 1980 ficaria marcada pela forte presença do setor juvenil da ACR, pois foi naquela época que os jovens começaram a tornar-se mais presentes na formação promovida pelo Movimento, mostrando um grande interesse em integrarem-se na ACR. A partir de 1982, e sobretudo a nível diocesano, iniciaram-se atividades para jovens, como resposta aos pedidos dos mais novos.

No Conselho Nacional de 1983, realizado em Lamego, decidiu-se que se realizariam cursos interdiocesanos para animadores de jovens, pois era fundamental para o trabalho que se pudesse desenvolver com estes jovens interessados. Assim, em 1984, é publicado um caderno de temas destinado aos animadores de jovens.

O trabalho de pré-jovens no Movimento levou à criação de uma publicação específica para esta idade, a folha «Sou Gente», que mais tarde veio a fazer parte integrante da revista «Mundo Rural». Todas estas iniciativas foram o ponto de partida do trabalho com os pré-jovens no Movimento pois, ano após ano, novos jovens foram aderindo, começando a integrar-se e a participar de forma ativa na dinâmica do Movimento. Foi um grande contributo para o rejuvenescimento da ACR.

Como já foi referido, o número de militantes estava a sofrer um decréscimo acentuado. A revolução que se seguiu ao 25 de abril de 1974 foi também uma das causas desse decréscimo, pois os militantes sentiam que a política era um campo de apostolado e, como não se queria confundir a ação política e a eclesial, o Episcopado não permitia que os dirigentes da Acção Católica fossem também líderes de partidos políticos, ou tivessem encargos políticos ou autárquicos, o que motivou o afastamento de muitos militantes, sobretudo alguns dos mais dinâmicos. Assim, em julho de 1976, deu-se a fusão entre a LAC e a LACF, efetuada no Conselho Nacional desse ano, e nasceu a ACR conjunta, constituída por mulheres e homens. Dizia-se que «se sacrificava a quantidade a favor da qualidade».

Depois daquela fusão, houve necessidade de se realizarem eleições para uma única Equipa Nacional, tendo sido eleitos, como Presidente, Maria Amélia Calheiros e, para Vice-Presidente, José de Bastos da Rocha.

Saliente-se que, apesar de a fusão ter decorrido em 1976, só em outubro de 1978 se realizou o primeiro Conselho Nacional da ACR, em Fátima. Nesse mês, foram aprovados os Estatutos da ACR.

Devido ao decréscimo de filiados, já visível antes da década de 70, desapareceram muitas Secções – o que também se deveu a muitos párocos que, após a revolução de 25 de abril de 1974:

«sentindo que a Acção Católica não dependia deles como antes e com receio de desvios, começaram a não desejar a Acção Católica nas suas paróquias e, onde existia, davam-lhe pouca importância. A Acção Católica entrou em crise, assim como a Igreja, que teve dificuldade em pôr em prática o espírito do Concílio».

As linhas orientadoras dos anos seguintes a 1974 visaram, por isso, a renovação, reorganização e reciclagem dos Dirigentes, com o objetivo de revitalizar o Movimento.

Fonte:

VEIGAS, Joana - A receção do Concílio Vaticano II em Portugal: no caso da Acção Católica Rural (ACR). Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Teologia, 2014, pp. 36-39.

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