Os dias de Hoje

Os dias de hoje

Um olhar sobre a atualidade da Acção Católica Rural

Hoje, a ACR não tem tantos militantes como antes, não tem o mesmo impacto, mas visa realizar a mesma missão junto do meio rural.

A ACR compreendia, em 2013, cerca de 120 grupos ativos, divididos por 16 dioceses do país: Angra do Heroísmo, Aveiro, Braga, Bragança-Miranda, Coimbra, Funchal, Guarda, Lamego, Leiria-Fátima, Lisboa, Portalegre-Castelo Branco, Porto, Santarém, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu. Ronda os 1500 o número de militantes e simpatizantes, congregando os elementos das Secções (crianças, adolescentes, jovens e adultos) e Equipas Diocesanas. A grande maioria são mulheres.

Embora congregue um número elevado de militantes, distribuídos por todas as faixas etárias, os inquéritos revelam um envelhecimento do Movimento. No entanto, é de salientar que entre os 16 e os 24 anos há um elevado número de jovens ativos e empenhados no Movimento.

Os inquéritos realizados [2013], que visaram essencialmente preparar a VII Assembleia Nacional de Delegados, decorrida na Diocese de Braga, tiveram também o objetivo de saber como cada grupo realiza a ação no seu meio.

Relativamente aos inquéritos realizados em triénios anteriores, constatou-se que, de facto, não houve recentemente uma abundância de adesões. No entanto, a grande maioria dos grupos acolheu novos elementos, o que revela que, para além do crescimento, existe também alguma renovação. Esta questão conduz-nos à expansão, sendo que os inquéritos revelam que se prevê no próximo triénio uma maior aposta nos grupos infantis e de adolescentes.

Mas a ACR não são só números. Deste modo, alguns dos militantes fizeram a sua reflexão sobre o hoje e o futuro da ACR, mostrando que atualmente, em relação ao passado, não há mais nem menos campo de ação em que a ACR possa intervir, embora existam novos contextos e novos desafios. Apresentam-se de seguida alguns excertos da reflexão dos entrevistados, ao serem questionados sobre o papel da ACR nos dias de hoje:


Maria Helena Inês
pensa que:

«após o Concílio (já passaram 50 anos – 2 gerações) [a ACR] continua a ter o seu lugar na Igreja e um vasto campo de apostolado. […] Mas é mais rica hoje do que nos tempos em que a Acção Católica era a organização oficial da Igreja, e quase a única organização laical. […] A Acção Católica deve evangelizar, formando as pessoas para tornar cristãs as realidades temporais onde estão inseridas (família, escola, trabalho, tempos livres…). Por isso digo que o seu apostolado é muito vasto, exigente e necessário neste tempo em que o secularismo apaga Deus na vida social e na consciência de cada um. […] O papel da Acção Católica é formar cristãos responsáveis que vivam a sua identidade com Cristo e a testemunhem no mundo em que vivem, com alegria, impulsionados pela Esperança e Caridade. Apesar do meio rural estar muito mudado, a realidade persiste, é um valor a preservar e é papel da ACR investir a sua ação na evangelização da vida rural, mesmo quando muito próxima da vida urbana. Há valores no meio rural que não podem desaparecer: o amor à terra, a solidariedade, as relações de vizinhança, as artes e ofícios tradicionais, a gastronomia, o artesanato, o ar puro e o sol, a agricultura sustentável».

Maria Clarisse Sousa refere que

«A Acção Católica Rural, se quer trabalhar para uma Nova Evangelização, tem de decidir ir até junto daqueles que não vêm à comunidade, à paróquia, aos Movimentos da Igreja. Tem de desafiar os batizados a uma pertença comunitária. […] Se todo o evangelizado deve evangelizar, é maior a exigência para um membro da Acção Católica Rural. Não podemos privar ninguém do tesouro que representa Jesus Cristo e o Seu Evangelho. […] Temos de saber ler os “sinais dos tempos”, em tudo o que vai acontecendo na nossa aldeia, no nosso País, no mundo, e entrar num compromisso cada vez mais construtivo, como nos aconselhava João XXIII. […] Os “sinais dos tempos” deixam perceber a voz de Deus, mas temos de estar muito atentos para a ouvir».

Dália Nunes refere que:

«A ACR é por natureza um Movimento vocacionado para a intervenção evangélica e tem de continuar a lutar por aquilo em que acredita. Continuo a pensar que a Acção Católica ainda não tem substituto, e tenho a perceção de que em alguns setores da Igreja se começa a reconhecer que o lugar da Acção Católica não está ocupado».

Flausino Silva diz que:

«A ACR tem de se manter fiel à sua vocação e missão de Movimento de Leigos no mundo, porque essa é a sua essência. Mas o nosso mundo muda/mudou muito depressa, e as pessoas estão demasiado cheias de si, de coisas materiais e culturais, e de ideias que o mundo lhes incute e, por isso, menos disponíveis para Movimentos "difíceis" como o é a ACR. Adaptando a formação e a ação ao modo eclesial e social de hoje, o Movimento continua a ser e é, na atualidade, fundamental, como o foi no passado, para a Nova Evangelização das pessoas e dos ambientes».

Cândida Silva, militante há mais de 50 anos, julga que:

«Os últimos Papas tiveram, e o atual [Bento XVI], ainda tem, consciência do valor do trabalho de leigos em Ação Católica. […] A ACR em Portugal poderá continuar se houver uma extraordinária confiança no “Chefe”, muito amor, determinação, estudo do meio, dos ambientes e das sociedades, e se os elementos da hierarquia mais responsáveis nas dioceses lhe derem um grande apoio».

Maria José Reis refere que a ACR pode:

«Continuar a ser “fermento na massa” vivendo a “Nova Evangelização”, ou seja, fazê-lo com grande convicção e maior ardor, sabendo que, seguindo Jesus, encontramos o Caminho, a Verdade e a Vida. […] A Igreja e a Sociedade Civil continuam a precisar (e talvez mais que nunca) de uma Acção Católica bem organizada, para fazer apostolado».

Ana Irene Rocha, militante desde 1962, pensa que:

«Se não existisse [a ACR], era preciso criá-la. […] Com meios que cativem, uma nova Evangelização, dinâmicas e metodologias que ajudem a fé, numa “evangelização de amor”».

Maria de Lurdes Leal refere que a ACR:

«É um Movimento cada vez mais necessário na Igreja perante os novos problemas que nos rodeiam. Um necessário renascimento da Revisão de Vida para que haja uma atuação cada vez mais próxima do agir de Cristo, partindo da relação pessoal que cada militante tem com Ele, que leve à transformação das pessoas e meios».


Isaura Branco
diz que:
«Para os dias de hoje, penso que a ACR tem que se sentir responsável pela Nova Evangelização na Europa».


O Pe. Silvino Amaral
considera que a ACR:

«Continua a ser o Movimento mais saudável do espírito de militância cristã em Igreja. Se muitas modas vão caducando, a ACR será sempre o verdadeiro filão de uma Igreja desperta para os problemas de hoje. Quanto mais visibilidade se der à ACR, mais iremos descobrindo os verdadeiros caminhos da Igreja laical nos tempos que trilhamos».


Teresinha Santos
, militante desde 1979, refere que:

«Hoje, a ACR, como já vem fazendo, tem um papel crucial, na escuta atenta dos problemas e aspirações do nosso tempo, de crise económica e de valores morais e espirituais. Vivemos uma situação de emergência social, familiar e religiosa. Com o Papa Francisco, temos de dar razões da nossa Fé e nos mobilizarmos, e anunciar ao mundo que Jesus Cristo, o Senhor, é CAMINHO, VERDADE E VIDA».
Aquando da comemoração dos 75 anos da Acção Católica Portuguesa, D. Manuel Clemente definiu a Acção Católica como:

«Consciência e ciência, sensibilidade e competência. Assim quer a Acção Católica enfrentar o mundo e as variadas problemáticas que o compõem e nos interpelam. Creio firmemente que a Acção Católica Portuguesa tem na sua gloriosa experiência passada a melhor garantia da igual conveniência futura».
Pode não ser uma multidão imensa como foi noutros tempos, mas a ACR tem pessoas valiosas, que continuam a mover montanhas nos seus meios, sendo elementos essenciais em quem muitos párocos e comunidades cristãs confiam. Hoje é preciso pensar na sua expansão, embora esta aconteça através da revista do Movimento, «Mundo Rural», que congrega não só militantes e simpatizantes, mas muitas outras pessoas que se interessam pelo conteúdo da revista e que recebem a mensagem do Movimento – existiam, em 2013, mais de seis mil assinantes daquele periódico. Refiro o «Mundo Rural» pela sua história, mas também pelas palavras de uma militante da Diocese de Angra do Heroísmo que, um dia, ao falar do oceano que nos separa, disse que «O Mundo Rural é o que nos une». Ou seja, o «Mundo Rural» ultrapassa todas as barreiras e congrega toda a ACR, como carta aberta nesta grande família.

Fonte:

VEIGAS, Joana - A receção do Concílio Vaticano II em Portugal: no caso da Acção Católica Rural (ACR). Lisboa: Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Teologia, 2014, pp. 42-47.

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